[leonardoti] Eu sou apaixonada por uma empresa, mas pedi demissão. A paixão não era correspondida.

*Eu sou apaixonada por uma empresa, mas pedi demissão. A paixão não era correspondida.* < www.linkedin.com/in/patricia-canci-78033a117/>
*Patricia Canci*
*Master of Business Administration – MBA |Fundação Getulio Vargas*

Eu sou apaixonada por uma empresa.
Mas eu pedi demissão.
Contraditório, não?
No dia do meu demissional o examinador questionou se eu havia sido mandada embora ou tinha pedido para sair. Depois de ouvir minha resposta o mesmo perguntou “estava de saco cheio né?”, eu só respondi: não.
Durante minha curta vida profissional aprendi como os trabalhadores são, no geral. Os vários perfis de profissionais que existem em todos setores, em todas empresa.
Existem os que trabalham para pagar as contas, apenas. Levantam, vão trabalhar sistematicamente. Fazem o que mandam e retornam para casa esperando o salário no final do mês, sem ao menos dar muita importância ao que os rodeiam. Não se preocupam muito, não perguntam demais, não se interessam além do que o que lhe é delegado. São como máquinas. Funcionários perfeitos para os que não gostam de ser contestados.
Alguns trabalham por status. Para mostrar perante a sociedade alguma posição exigida. Principalmente se algum estudo foi somado à sua formação. Possuem nariz em pé, gostam de se mostrar os melhores e quase sempre se mostram como “puxa saco” de seu superior. Tendem a falar muito, fazer pouco, se apropriar do trabalho bem feito e fugir das responsabilizações pelos erros. Costumam estar sempre por perto da chefia e indagando o trabalho alheio.
Existem ainda os que vão para o trabalho e vêem tudo como um passatempo diário. Não se comprometem, brincam com tudo, não fazem sequer o mínimo esforço para aprender algo, mas se safam pela tendência a serem engraçados, populares ou algo do tipo. Se fosse uma escola eles seriam os alunos “do fundão”.
Há também os funcionários receosos. Precavidos. Que mesmo sabendo o que fazem não transparecem pois o fazem com tanto zelo e cuidado que demoram uma semana consultando a chefia em cada detalhe (que por vezes não sabe mas pode ser que insista em opinar, criando um ciclo vicioso) antes de em fim chegar a uma conclusão. Dependendo de sua posição eles atrasam o trabalho de toda uma empresa. São os medrosos.
Temos os profissionais frustrados, que fazem as coisas sem dar importância, não se preocupam com as repercussões de seus atos. Tanto faz como tanto fez. Erram cem vezes a mesma coisa, pois não se interessam. Não analisam, aceitam qualquer opinião, vivem com uma cara de paisagem e vez ou outra mostram uma tendência passivo-agressiva. São acomodados, desanimados, verdadeiros sanguessugas-zumbis.
Ha aqueles que trabalham para sustento da família. Tendem a ser uma mistura dos que estão ali para pagar as contas com os medrosos. Fazem o trabalho mas sempre em prontidão com receio de que algo possa ficar ruim para o lado dele. Por isso também não arriscam muito. Tendem ao falso moralismo, a buscar apenas salário e a ficar tensos mediante mudanças organizacionais.
E além de muitos outros, existem os verdadeiros workaholics. Os que são viciados em trabalho. Os que possuem uma paixão tão ardente em trabalhar que trocam qualquer programa para estar em contato com o meio profissional. Tendem a querer construir carreira, e para isso sabem que precisam aprender e arriscar, e fazer acontecer. E errar, por mais odioso que seja, traz aprendizado. E correr atrás. E não medir esforços. E colocar o trabalho e suas realizações como prioridade.
São auto-motivados. São eficientes, rápidos, ágeis, assumem responsabilidades, mais que isso, puxam responsabilidade. Não buscam bajulação, nem tomar lugar de ninguém. Colocam o profissional no topo da pirâmide de prioridades de vida. Podem se perder algumas vezes ou chegar a exaustão mesmo não admitindo. Trabalham não para os donos, mas para si, e de uma forma que, por sua exigência extrema, se resume em ganhos mútuos, em criações de processos, em correr atrás de resultados, e de um mar de ideias e projetos e emails disparados. Sim, são os apaixonados pelo que fazem. Além de qualquer coisa. O funcionário que todos gostariam de ter. Ou não.
Adivinhem onde eu me encaixava? É.
Acontece que a paixão, por mais intensa, por mais auto-motivação, acaba. Ela acaba quando não é correspondida por muito tempo, e, pior, ela acaba quando quem está do outro lado lhe diz que sua paixão é ruim, não apenas para você, como para a empresa onde você está.
A paixão acaba quando, no meio desse relacionamento entre trabalho e trabalhador, uma mão tenta colocar cordas de ventríloquo em um carro de corrida. Acaba na não permissão. Na dosagem. No corte. Acaba quando, me disseram várias vezes que por medo, alguém coloca um freio de mão a força em você.
Não se limita um apaixonado. Se faz a paixão crescer, se deixa ele incendiar tudo e se cresce junto. Quanto mais fogo, mais paixão e vice-versa.
Quando se limita um apaixonado você o prende, o sufoca, vai aos poucos, com controle, tirando o brilho do seu olhar. Você aperta. E tudo que aperta e sufoca impede o crescimento, e então, pela necessidade de crescer e por acreditar de fato estar mais atrapalhando do que colaborando, o apaixonado se vai. Com a paixão no peito. Mas vai.
Mesmo que doa, mesmo que queime, mesmo que arda.
Pois em qualquer relacionamento, principalmente nos profissionais, se não for benéfico aos dois, não vale a pena. E me fizeram acreditar que não era.
Minha paixão não era correspondida.
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