O melhor conselho que já dei a alguém
– Publicado em 14 de novembro de 2016
Tive a chance de dar conselhos para muitas pessoas, tanto pessoais quanto profissionais, porém uma ligação em especial eu guardarei para sempre na memória. Foram apenas alguns minutos, e pode ter sido pequena minha contribuição, mas foi uma oportunidade a qual se tem talvez uma vez na vida.
Conheci o Igor quando ele estava começando sua carreira. Isso foi em 2008 ou 2009, se não me falha a memória. Ele tinha uns 19 anos. Era um garoto esforçado em fazer sempre o melhor. Melhor ainda, era humilde o suficiente para ouvir e aprender. É o tipo de pessoa que você tem certeza de possuir um coração bom, e você acaba virando fã.
Como todo jovem no mundo corporativo, e em tecnologia da informação, Igor tinha grande disposição para aprender e se manter atualizado.
Queria crescer na carreira, viajar para eventos, conhecer lugares novos, fechar grandes projetos e naturalmente ganhar um bom dinheiro.
Dentro da minha experiência, procurei ajudá-lo a construir sua carreira. Não sou nenhum guru, mas tinha algo para contribuir depois de mais de 20 anos nesse mercado. Igor rapidamente se tornou um profissional elogiado e querido pelos colegas, e já podia seguir seus passos.
Um belo dia, decidiu mudar de empresa, e seu progresso se acelerou fortemente. Acompanhava sua trajetória profissional por redes sociais, e trocava idéias via papos esporádicos por telefone. Ele estava realizando tudo que sonhou: viagens, projetos, eventos, reconhecimento e diversão.
Uma noite, após um período longo sem nos falarmos, ele me ligou. Eu estava em um hotel em São Paulo, em uma dessas viagens cansativas que te faz pensar como sua casa e família são importantes. Atendi, e o diálogo foi mais ou menos assim:
*Igor: “Oi chefe! É o Igor, pode falar?”*
*Eu: “Lógico! Fala Igor, tudo bom? Quanto tempo! Que manda?”*
*Igor: “Chefe, eu estou te ligando pois vou sair da empresa, e queria que você soubesse…”*
*Eu: “Saindo? Mas como? Você estava indo super bem lá! Ficou chateado com algo ou pintou alguma outra oportunidade mais bacana?”*
*Igor: “Não é bem isso. Eu pensei em fazer algo, e queria um conselho seu. Eu penso em me desligar por uns 2 anos de tudo, e viajar o mundo, tipo um período sabático sabe? Acha loucura?”*
*Eu: “Cara…bom… (respiro longamente)…Olha só, você está casado? Tem filhos? Tem prestação da casa para pagar? Tem parente aqui com alguma doença grave?”*
*Igor: “Não…”*
*Eu: “Qual a dúvida então? Vai embora! Manda brasa!”*
*Igor: “Chefe, eu sabia que te ligar seria bom. Muita gente acabou falando justamente o contrário, perguntando como ia ficar minha carreira, que era loucura, etc. Você foi o primeiro a me apoiar de cara!”*
Ele agradeceu, ficamos de nos encontrarmos um dia desses, e a ligação acabou. Eu voltei à realidade do meu quarto de hotel, me preparando para descansar e para enfrentar a selva de pedra no outro dia. No entanto, demorei a me desligar da conversa.
Eu nasci em um Brasil extremamente fechado, isolado do mundo e pobre no início da década de 70. Sou de uma geração que foi adestrada para estudar, ter boas notas, fazer um vestibular e conseguir um bom emprego. Em algum momento, naturalmente, casar, ter filhos, e estes seguirem a mesma “fórmula de sucesso na vida”. O Igor não tinha esse “legado”, e seria um crime infectá-lo com isso.
E o Igor foi. Acompanho sempre suas postagens no Facebook, e sempre me pego com um sorriso lendo seus relatos. São posts inspiradores, que realmente te transportam para suas aventuras, suas tentativas de autoconhecimento, as novas amizades formadas, e que te fazem sentir como se estivesse lendo um livro de Robinson Crusoe ou Capitão Nemo. A diferença é que esse aventureiro eu conheci, e é de carne e osso.
Essa foi uma das primeiras fotos dele. Ele estava naquela praia que foi popularizada pelo Leonardo DiCaprio (A Praia).
Você pode ir de férias, claro, mas fico aqui imaginando como seria a sensação de não ter pressa, não ter hora, ou de não lembrar que email existe. Deve ser algo indescritível.
A viagem não está sendo apenas de aventuras loucas. Igor também tem conhecido outras realidades, de países que muitos de nós conhecemos através da tela do computador.
Ele relata suas conversas com os locais, sobre economia, mercado de trabalho, cultura e todo o cotidiano.
Ele está conhecendo lugares sensacionais, e eu – sendo fã confesso de História – fico extasiado com o que ele deve estar experimentando e conhecendo.
São templos titânicos, em locais remotos, onde o mundo parece ter parado no tempo, como essa foto na Malásia que foi um dos pontos de sua aventura pelo mundo.
Agora, Igor passou 10 dias isolado em um retiro budista na Tailândia. O relato dele é incrível, e parece quase uma ficção.
O isolamento, a desaceleração, a reflexão, e a limpeza mental são frutos de uma rotina muito desafiadora de exercícios físicos, mentais e espirituais. Ler sobre essa experiência é algo surreal, de altos e baixos, mas que lava a alma.
Ele continua sua jornada, pegando carona, fazendo trabalhos temporários para passar o tempo e garantir alguns trocados a mais.
Está vendo e vivendo coisas que nem consigo imaginar. Ao longo do caminho, conhece pessoas locais e de vários países do mundo, criando uma rede invejável de conhecimento e amizades improváveis.
A jornada de Igor ainda tem muitas aventuras pela frente, e fico ansioso para ver qual será a próxima surpresa desse garoto. Que lugar do mundo ele estará agora? O que estaria pensando? Que lições ele está aprendendo? Que pessoa estaria se tornando?
Não sei o que o futuro reserva a ele, ou melhor, que futuro ele decidirá ter. Poucas vezes na vida me enganei sobre o caráter e competência de alguém. Com o Igor não foi diferente.
Ao longo dos anos, pude ajudar muitos colegas e amigos com conselhos, e muitos deles inclusive estão ainda melhores que eu nas suas carreiras. Tenho enorme orgulho disso e, aliás, a cada vez que “ensino” a alguém eu aprendo muito, mas muito mais.
Igor retornará um ser humano muito diferente. Sua bagagem profissional estará aliada a uma experiência pessoal que pouquíssimas pessoas podem apresentar. Caso ele decida voltar à carreira profissional de antes da viagem, eu tenho certeza absoluta que terá uma capacidade de liderança única, e será admirado e invejado por muitos dos que o chamaram de louco.
O orgulho de ter aconselhado esse “garoto” se transformou em total admiração. Aguardo ansiosamente o dia que teremos uma nova ligação. Melhor ainda, uma oportunidade de reencontrá-lo ao vivo, e dar um abraço amigo. A diferença é que, nesse dia, serei eu humildemente procurando conselhos e inspiração.
*Ao amigo Igor, que está agora em um lugar qualquer do mundo.*
*Fonte: **https://www.linkedin.com/pulse/o-melhor-conselho-que-j%C3%A1-dei-algu%C3%A9m-ricardo-costa?trk=hp-feed-article-title-like